João Werneck é, por formação, músico e compositor, tendo iniciado seus caminhos na escrita poética por meio de composições autorais, algumas delas lançadas no seu álbum, Subplanos, lançado em 2019. Nos anos seguintes, se dedica à poesia escrita em um processo solitário, não tendo nenhuma obra publicada.
Manhã
acordar
olhar para trás
cavar, cavar
esbarrar no umbigo do mundo
perceber sem medo o próprio fim
no início
reforjar os elos
repensar as falhas
escovar os dentes
tomar o café
e esquecer de tudo
Luz
madrugados sorriem
seus olhos virados
e a boca doce
de comentários cegos
muita luz na sua retina
meu bom dia sua boa noite
Esfinge
plana em ventos quentes
coração urubu
devora-te a ti mesmo
refogado em miúdos
e no borrão das vísceras
decifro-te
Templo
templo tem boca e boceja
hálito distinto de morte e vida
de mangue
de flor
de planta carnívora
templo atrai
templo come
Tempo
Vento afia a navalha
(amola o fio)
e os dias cortam
a Areia pesa
grão por grão
e a Morte
Foice
o Tempo
Desenho de Ariyoshi Kondo.